‘’ESTREAMOS: UMA BALA PODE?''
Nossa primeira coluna vem
com uma entrevista incrível com a nutricionista comportamental Isa Moreno.
Com muita gratidão
hoje fazemos nossa estreia, e para esta jornada que espero ser longa aqui no
Blog, tive a honra de entrevistar a Nutricionista Comportamental Isa Moreno, em
tempos de dietas altamente restritivas ela tem uma visão singular da dieta do
‘’NÃO PODE’’.
Seria possível se deliciar com um hambúrguer
em plena quarta-feira ? Em meio a uma alimentação saudável isso se enquadra ?
Ela nos responde essas e outras curiosidades nas dez perguntas que seguem
abaixo com muita precisão e um conhecimento invejável, no final do post segue o
contato da nossa entrevistada e suas redes sociais, divirtam-se e até a próxima
semana.
1-
R.A – Em um tempo de dietas restritivas seu trabalho se diferencia pela
proteção do termo ‘’comer pode’’ abominada pela maioria dos
nutricionistas, o que você pensa sobre esse tipo de era dominada pelo
negativismo total na hora de passar uma dieta?
I.M – Não só podemos, como DEVEMOS
comer! Vivemos na era do terrorismo nutricional, onde o “poder comer” se tornou
alvo de julgamento, produzindo culpa, punição e proibição ao que se come. Perpetua-se
o mito de que existem alimentos bons e ruins, o que não é verdade, pois todos
eles podem ter seu lugar numa rotina alimentar variada e equilibrada. O que é
bom para uma pessoa, pode fazer mal para outra. As dietas restritivas
transformam as pessoas saudáveis em doentes fanáticos por alimentos
“politicamente corretos”. Restringem o carboidrato sem serem diabéticos,
removem o glúten sem serem celíacos, removem leite e seus derivados sem serem
alérgicos ou intolerantes, tudo para pertencerem ao culto da moda alimentar do
momento.
Alimentar-se normalmente e de
modo saudável, não exige que você siga a moda atual. As boas escolhas
alimentares podem ser mais fáceis do que imaginamos, não temos o porquê
complicar.
2-R.A – No seu instagram você posta sobre como comer desde um hambúrguer
até mesmo uma salada de frutas sem neura, no que você se baseia na hora de
passar uma dieta para uma pessoa obesa que em um primeiro momento seria
totalmente proibida de comer um pedaço de pizza no final de semana?
I.M – Tendo
em vista que a obesidade é considerada uma doença de causa multifatorial e
complexa, na hora de orientar um paciente obeso eu não prescrevo “dietas”,
exatamente porque a perda ou a falta de autonomia alimentar tem colaborado
muito com a prevalência da obesidade. Como tratamento, é realizado um
aconselhamento com foco primário na saúde e não apenas no peso. Dessa forma, a
perda de peso é vista como uma consequência da mudança do comportamento
alimentar. Assim, o paciente obeso vai aos poucos melhorando o seu
comportamento e conseguindo a redução de peso em gordura sem maiores esforços, preservando
sua massa magra. Durante todo esse processo, ele não irá restringir nada, nem
mesmo o docinho e a pizza, mas aprenderá a se orientar pelos sinais de fome e saciedade,
aprendendo a comer com atenção, cuidado e para o presente.
3
- R.A – Você acha que a dieta do ‘’não pode’’ faz com que pacientes
cheguem a ter medo da comida ?
I.M –
Sim, com certeza. Como nutricionista comportamental, eu ajudo o indivíduo a
resgatar e a se reconectar com as sensações internas do organismo ligadas à
fome, satisfação, saciedade e prazer, eliminando aos poucos a culpa ao comer. Meu
desejo é que o paciente tenha sempre confiança em suas escolhas. Toda vez
encorajo-o de alguma maneira para que ele tenha uma boa relação com a comida
que um dia foi considerada “vilã”.Não trabalho com abordagem
prescritiva, ou seja, não entrego dieta, plano alimentar ou listas de “pode” ou
“não pode”. Tudo isso é muito limitador, gera medo, ansiedade, obsessão por
comida e até colabora para possíveis distúrbios alimentares, o que é muito
frequente em quem procurou desesperadamente por um “manual da boa alimentação”
ao longo da vida.
A dieta do “não pode” é
impositiva e contra produtiva do ponto de vista biopsicossocial, que em nada
ajuda na mudança do comportamento alimentar.
4-R.A – Particularmente eu acredito que uma dieta balanceada sem
exageros, com aval para comer os chamados ‘’lixos’’ nos finais de semana seja a
maneira mais eficaz de atingir resultados, o que você pensa sobre isso ? Tem
dias específicos?
I.M – A
base da alimentação deve ser constituída principalmente de alimentos in natura
e minimante processados, de modo que você se permita a consumir pequenas
porções de alimentos demonstradas no topo da pirâmide alimentar (doces,
alimentos gordurosos e guloseimas). Remover ou restringir as guloseimas de
nossa alimentação pode desencadear compulsão e obsessão alimentar, fazendo com
que ocorram exageros no suposto “dia do lixo”. Aquele rodízio de final de
semana pode estragar o seu esforço e disciplina semanal, bem como lhe induzir a
acreditar que aqueles alimentos “não prestam”, o que é errado.
Comer
muito de uma só vez pode ser desastroso para sua saúde, assustando o seu
organismo, por não reconhecer aquele excesso como um costume diário. É mais
fácil saber dosar do que passar vontade a semana inteira e exagerar aos finais
de semana.
O
primeiro passo é se livrar da mentalidade de dieta, que perturba a nossa
experiência com a alimentação e com o corpo. O segundo passo é fazer as pazes
com o alimento que você considera proibido. Seja amigo dele, ao consumi-lo
atente-se bem a ele, sinta seu cheiro e seu sabor e coma devagar, seu corpo irá
ditar se ele realmente precisa desse alimento e o quanto, assim, você saberá
aproveitá-lo mais e comer menos, ou até deixa-lo de comer por não sentir vontade
nesse momento.
5-R.A – O que você acha da era ‘’COACH’’ ?
I.M – O problema da era “Coach” é o profissional que
se esconde atrás de seus certificados, querendo passar uma imagem de
profissional atualizado e de sucesso, usando desse artefato como justificativa
para elevar o preço de seus atendimentos frente a sua “superioridade” como
sendo um método inovador.
O
Certificado de coach nada tem a ver com competência. Aliás, possuo certificado
de Coaching em Emagrecimento, mas nunca precisei pregar na parede ou colocar em
minhas páginas dizendo que sou “Coach”. Sinceramente tenho que representar para
meu paciente muito mais que uma titularidade que adquiri. As pessoas devem
saber filtrar os profissionais por sua competência.
6-R.A – Quais os riscos de uma dieta totalmente restritiva ?
Principalmente quando há pacientes com tendências a sofrer distúrbios
alimentares?
I.M –
Dietas e modismos alimentares é o que não faltam: retirar o glúten, retirar a
lactose, dieta detox, dieta paleolítica, dieta da USP, dieta do tipo sanguíneo,
dieta da proteína, low-carb... Enfim, temos uma infinidade de dietas ao nosso
dispor. Mas no que elas se igualam? Na restrição!! Pesquisas mostram que dietas
restritivas não funcionam para promover perda de peso em longo prazo. Mas é
importante ressaltar também como consequências, o bloqueio no convívio social, monotonia
alimentar, compulsão devido à restrição, efeito-sanfona e piora do metabolismo
(a cada ciclo de dieta fica ainda mais difícil de perder peso), dificuldades
cognitivas por falta de algum nutriente eliminado, queda no desempenho das
tarefas cotidianas por carência energética, prejuízos clínicos, prejuízos
psicológicos (como a distorção da imagem corporal) e obsessão por comida podendo
progredir para um transtorno alimentar.
Transtornos alimentares são quadros psiquiátricos
caracterizados por profundas alterações no comportamento alimentar e disfunções
no controle de peso e forma corporal. Anorexia,
bulimia, transtorno de compulsão alimentar, ortorexia e vigorexia são alguns
dos transtornos alimentares mais frequentes na população brasileira atualmente.
Como solução aos pacientes que
apresentam transtornos alimentares, a mudança de comportamento alimentar é de
fundamental importância, excluindo-se dietas e listas de alimentos que pioram e
dificultam o tratamento.
R.A – Já conversamos sobre o queijo amarelo, no qual eu estou ansioso
para ver um post no seu stories (risos) aproveitando vamos falar dele aqui no
nosso papo? Queijo amarelo é mais saudável que o branco? E como ele se enquadra
em uma dieta?
I.M –Não, nenhum alimento é mais saudável
que o outro e nenhum tem o poder de
emagrecer ou engordar por si só. O que realmente
importa quando se diz respeito à alimentação é para quem, para que e em que
contexto nutricional ela se aplica, nesse caso o queijo. Existem vários tipos
de queijos: minas frescal, muçarela de búfala, mozzarella, provolone,
roquefort, cottage, ricota, prato, parmesão e muitos outros. Por aí você já viu
a infinidade de queijos, não é? Dessa forma é muito triste se limitar apenas a
um único tipo de queijo, por acreditar ser o menos calórico, ter menos sódio,
menos gordura, menos isso e menos aquilo por porção, a não ser que você tenha
realmente uma restrição, intolerância ou alergia a algum componente específico
de algum queijo. Queijos com mais leite por
quilo têm mais nutrientes (principalmente proteínas, gorduras, cálcio e
vitaminas A, D e do complexo B), então é preciso balancear sua dieta incluindo vários
tipos, se possível.
Uma alimentação saudável é
aquela que não se limita a um único tipo de alimento de determinado grupo. O
segredo está sempre na variedade, qualidade e procedência.
7-R.A- No decorrer de um tratamento o paciente pode ir se
experimentando no sentido de ir colocando alguns alimentos por conta própria de
modo que ele possa se sentir melhor com uma inserção própria, claro desde que
te comunique ? Por exemplo você indica pão integral e ele troca por outro
alimento e se sente bem, é possível?
I.M – O
meu objetivo como nutricionista comportamental é exatamente esse, fazer com que
meu paciente tenha autonomia perante suas escolhas alimentares. A partir da
escuta interna, que será resgatada e devidamente trabalhada, ele aprenderá a
ouvir o que o seu organismo pede no momento. A flexibilidade alimentar torna o
indivíduo mais sábio a respeito de suas escolhas, que por consequência terá
mais tranquilidade, variedade e equilíbrio no momento de suas refeições.
8- R.A – Uma grande massa defende a tapioca (eu sou um deles – risos) o
que você acha da troca do pão pela tapioca?
I.M - A tapioca é feita a partir da fécula de mandioca e
o pão branco com farinha de trigo. Os dois são fontes de carboidratos que
fornecem energia para o nosso corpo. Ao analisar uma porção de 20g de cada um
deles, verifica-se que ambos apresentam alto índice glicêmico, o que significa
que ao serem digeridos pelo nosso organismo, são rapidamente absorvidos. Em
relação às calorias e composição nutricional, ambos são bem parecidos. Os
dois podem ser incluídos em uma alimentação equilibrada e não há necessidade de
se “trocar” um pelo outro, mas alterna-los de acordo com sua rotina e
preferências para não entrar em monotonia alimentar. Vale lembrar que para
pacientes com diagnóstico de doença celíaca (reação imunológica ao glúten), a
tapioca é uma boa alternativa como alimento fonte de carboidrato livre de
glúten.
Mas não se esqueça que os alimentos isentos de glúten são comumente menos fortificados com ácido
fólico, ferro e outros nutrientes do que os alimentos contendo glúten. Alimentos sem glúten tendem a ter mais açúcar
e gordura em sua composição, sendo que diversos estudos apontam a tendência
para ganho de peso, obesidade e desenvolvimento de diabetes tipo 2 entre
aqueles que seguem uma dieta isenta de glúten desnecessariamente. O segredo
mais uma vez está na sabedoria e equilíbrio alimentar.
9- É possível comer Mc Donald’s, fazer dieta e ser feliz? (risos). Essa
em especial para o meu personal que detesta quando eu como Mc Donald’s (risos)
I.M – Sim, claro que é possível! Se você tem uma alimentação
equilibrada, variada e constituída em sua maioria por alimentos in natura (os
frescos e naturais) ao longo do dia, um fast-food de vez em quando não vai te
comprometer em nada. O problema de comer somente os lanches em redes de
fast-foods é o excesso de conservantes e corantes, que nem sempre são bem
aceitos pelo nosso organismo. É preferível o consumo de lanches e hambúrgueres
preparados em nossa casa ou em hamburguerias artesanais, pois são as melhores
opções quando se quer algo saboroso, com qualidade e de grande variedade
nutricional. Coma aproveitando cada mordida.
10-R.A – Para finalizar uma bala pode ? (risos)
I.M – Sim,
é mais que merecido!
Isa Moreno é
Nutricionista Comportamental inscrita no
CRN-3:
51.293
Instagram: @isamoreno_g
Marcadores: Empoderamento